Quinze Pedras
Há muito venho postergando minha visita ao Kinkakuji, talvez o principal ponto turístico do Japão. Mas aproveitei o feriado (comemoracao da fundacao da universidade, orgulhosamente a mais antiga escola de economia da Asia) e resolvi rodar a região em que localiza o Kinkakuji, nos arredores de Kyoto, a menos de uma hora de trem de onde estou morando. Em um dia, e possivel para visitar uns três ou quatro templos, dependendo da sua disposição em andar e do tempo que você gosta de passar vendo, digamos, “coisa velha”. Bom, eu adoro esse tipo de programa. Acordei às sete da manhã e saí, ansioso pelo tão falado Pavilhão Dourado. O templo, construído em 1397, foi reconstruído em 1955 depois de um incêdio causado por um fanático religioso. O incidente foi imortalizado em livro homonimo de Yukio Mishima, escritor consagrado no Japão. O lugar e certamente maravilhoso. O templo, dourado e em estilo arquitetonico japones, se localiza na beira de um lago, cheio de carpas e o parque que o rodeia fica todo florido nessa epoca do ano (eu nem sabia que vitoria-regia dava flor!). Mas a surpresa do dia não foi o Pavilhão Dourado, mas o templo vizinho, da mesma seita. Não é certamente um dos pontos obrigatórios para turistas que passam menos de uma semana no país. É, na verdade, um templo menos conhecido (embora relativamente famoso) e não possui grandes atrativos senão pelo jardim de areia e pedras. Lendo uma descricao dessas em um guia turistico, nao e um templo que mereca uma hora e quinhentos ienes. Mas o jardim e aquele que originou o popular passa-tempo de mesa a que se acabou chamando “jardim zen”. Um jardim em miniatura, com areia branca e algumas pedras, arranjadas com a respectiva miniatura de um arado. Trata-se de um item obrigatório sobre as mesas dos gurus da administração da decada de 1990. Alguns deles sugerem que mover as pedras e uma forma de relaxamento. Outros, mais audaciosos (e, creio, pouco profissionais), sugerem uma analogia entre pedras e empresas. Em geral, entretanto, eles não têm a minima idéia de onde veio o jardinzinho. Quanto mais sobre a quantidade de pedras. O original, entretanto, possui pedras relativamente grandes. Mais especificamente, quinze pedras. Contadas e recontadas, por monges especialistas e turistas leigos, nos ultimos mil e tantos anos. Mas o interessante é que, ao entrar no corredor de onde se vê o jardim, não se contam quinze pedras. De jeito nenhum. Mesmo andando o corredor inteiro, brigando por um lugar em meio a tantos turistas curiosos e incapazes de encontrar a decima quinta, não se contam quinze pedras.
Diferente dos turistas, sem tempo para contar pedras, ou dos japoneses, sem curiosidade para contar pedras, eu dei três voltas no mesmo corredor. Esbarrando em turista falando tudo quanto e lingua. Esbanjando tempo e curiosidade, coisas escassas em turistas, mas abundantes em monges. Nem como turista, nem como monge, encontrei a decima quinta!
São cinco conjuntos de três pedras, distribuídos sem qualquer ordem aparente por um jardim de quinze por cinco metros de areia branca. Mas os grupos estão organizados e dispostos de tal maneira que, de qualquer ponto do corredor, a maior pedra dos grupos existentes nos cantos esconde a menor. E, sob qualquer ótica (claro, exceto se você entrar no jardim ou tirar uma foto aérea, mas imagino que o jardim seja arado para que ninguem tente trapassear e entrar no jardim para contar as pedras, deixando pegadas na areia!), não há como enxergar as quinze.
A idéia (e, a partir daqui, essas “idéias” se referem a “minhas idéias”) é que não é possível entender o todo sob um único ponto de vista. E muito menos sob muitos pontos de vista. É preciso juntar todos esses pontos de vista em uma mesma realidade (em especial, isso vale para nós, economistas, sempre tentando reduzir a realidade a um homem economicamente racional, desconsiderando aspectos políticos, sociais ou mesmo religiosos e emotivos).Não sei se essa foi o objetivo do monge arquiteto, que falecera sem deixar explicações de sua obra. Mas o método ascético da escola, a auto-descoberta e resolução de paradoxos (como o questionamento do barulho da palma quando batida com apenas uma mão), está cheio de exemplos do tipo. Mas o exercício me chamou a atenção e justificou os cinquenta dólares e um dia inteiro andando por 5 templos. Exceto pelo Kinkakuji, todos fora da rota de um turista com pouco mais de duas semanas para visitar o pais inteiro
São cinco conjuntos de três pedras, distribuídos sem qualquer ordem aparente por um jardim de quinze por cinco metros de areia branca. Mas os grupos estão organizados e dispostos de tal maneira que, de qualquer ponto do corredor, a maior pedra dos grupos existentes nos cantos esconde a menor. E, sob qualquer ótica (claro, exceto se você entrar no jardim ou tirar uma foto aérea, mas imagino que o jardim seja arado para que ninguem tente trapassear e entrar no jardim para contar as pedras, deixando pegadas na areia!), não há como enxergar as quinze.
A idéia (e, a partir daqui, essas “idéias” se referem a “minhas idéias”) é que não é possível entender o todo sob um único ponto de vista. E muito menos sob muitos pontos de vista. É preciso juntar todos esses pontos de vista em uma mesma realidade (em especial, isso vale para nós, economistas, sempre tentando reduzir a realidade a um homem economicamente racional, desconsiderando aspectos políticos, sociais ou mesmo religiosos e emotivos).Não sei se essa foi o objetivo do monge arquiteto, que falecera sem deixar explicações de sua obra. Mas o método ascético da escola, a auto-descoberta e resolução de paradoxos (como o questionamento do barulho da palma quando batida com apenas uma mão), está cheio de exemplos do tipo. Mas o exercício me chamou a atenção e justificou os cinquenta dólares e um dia inteiro andando por 5 templos. Exceto pelo Kinkakuji, todos fora da rota de um turista com pouco mais de duas semanas para visitar o pais inteiro
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